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Migrar da AWS para GCP: Mudança ou progresso real?

Nem toda mudança é progresso

Mudar de provedor de nuvem — por exemplo, migrar da Amazon Web Services (AWS) para a Google Cloud Platform (GCP) — pode soar como um grande avanço estratégico. Afinal, quem não quer aproveitar a “última novidade” ou buscar melhores preços e desempenho? No entanto, é crucial lembrar que mudança por si só não é sinônimo de progresso. Muitas migrações de nuvem consomem tempo e dinheiro, mas não trazem benefícios reais ao negócio. Estudos indicam que menos de um terço das empresas alcança plenamente os objetivos esperados em projetos de cloud, e metade das iniciativas de transformação em nuvem fracassa completamente quando a mudança tecnológica não está alinhada às metas do negócio – Fonte: ciodive. Ou seja, trocar AWS por GCP sem um motivo claro pode acabar sendo um tiro no pé, deixando CFOs e CEOs se perguntando: qual foi o ganho de tudo isso?

Neste artigo, vamos analisar criticamente a migração AWS→GCP. Discutiremos comparativos técnicos e estratégicos entre esses provedores (spoiler: ambos entregam resultados semelhantes na maioria dos critérios), examinar custos ocultos e riscos operacionais envolvidos na migração e apresentar argumentos sólidos de por que muitas migrações acabam sendo desperdício de recursos se não houver um benefício concreto. Também exploraremos cenários específicos em que mudar de AWS para GCP realmente faz sentido, adotando um tom equilibrado. Se você é desenvolvedor, CTO ou CEO pensando em trocar de nuvem, continue lendo – e prepare-se para questionar se essa mudança é realmente necessária.

AWS vs GCP: Comparativo técnico e equivalências

Quando colocamos AWS e GCP lado a lado, percebemos que são duas gigantes altamente capazes e, em muitos aspectos, equivalentes. Ambos os provedores oferecem um conjunto abrangente de serviços de nuvem e infraestrutura global de primeira linha. Por exemplo, a AWS hoje conta com mais de 240 serviços em seu portfólio (compute, storage, bancos de dados, ML, etc.), enquanto o GCP oferece mais de 150 produtos – cobrindo praticamente as mesmas categorias e necessidades dos usuários – Fontes: ( cloudzero 01 cloudzero.com 02 ). O Google Cloud “segue de perto” a AWS, fornecendo serviços em grande parte equivalentes (a principal diferença está na fatia de mercado, já que a AWS é líder e o GCP o terceiro colocado) Fonte: ( dev.to ). Em outras palavras, para quase tudo que se faz em AWS há um serviço correspondente no GCP – de máquinas virtuais a funções serverless, de storage de objetos a streaming de dados.

Do ponto de vista de desempenho e escalabilidade, ambas as plataformas oferecem capacidade mais que suficiente para workloads de todos os tamanhos. A AWS possui presença massiva com 99 zonas de disponibilidade em 31 regiões globais, enquanto o GCP já opera em 37 regiões com 112 zonas – alcançando clientes mundialmente com baixa latência e alta redundância (Fonte: cloudzero.com ). Escala horizontal, autoscaling e resiliência estão disponíveis nos dois provedores, suportados por redes globais e acordos rigorosos de SLA. Em termos de confiabilidade, os dois clouds oferecem níveis empresariais de disponibilidade e recuperação de desastres (multi-região, backups, etc.) para manter sistemas críticos no ar (fonte: cloudzero.com ).

E quanto a custos e modelos de precificação? Novamente, há mais semelhanças do que diferenças. A AWS foi pioneira no modelo pay-as-you-go (pague pelo uso) e em descontos por compromisso antecipado (como Reserved Instances ou Savings Plans de 1 a 3 anos). O GCP adotou abordagem similar: você também paga apenas pelo que usar e obtém descontos significativos ao se comprometer com uso por 1 ou 3 anos, através de programas de Committed Use ou descontos por uso sustentado (fonte: cloudzero.com ).

Nenhum dos dois exige contrato de permanência obrigatória – embora ambos incentivem compromisso com preços mais baixos. Na prática, as estruturas de preços da AWS e do GCP tendem a ser comparáveis na maioria dos cenários típicos, variando conforme os detalhes do uso (por exemplo, o GCP oferece descontos automáticos por uso contínuo de instâncias, enquanto a AWS exige reservar capacidade para obter descontos equivalentes). Ambos cobram por recursos similares (CPU, memória, armazenamento, tráfego de rede) e competem agressivamente, o que significa que não há economia garantida simplesmente por trocar AWS por GCP sem antes analisar profundamente o seu padrão de consumo.

Em resumo, não existe um “ganhador claro” em capacidade bruta entre AWS e GCP. Se sua motivação para migrar é achar que o GCP tem “mágica” de performance ou preço muito superior, cuidado: as duas plataformas entregam desempenho e custo altamente próximos, com diferenças pontuais apenas em serviços específicos ou modelos de contrato. Mudar de provedor esperando resolver problemas gerais de escalabilidade ou reduzir custos de forma genérica pode ser ilusão – a menos que haja um caso de uso específico em que um dos provedores tenha vantagem, o resultado provavelmente será equivalente. E é aí que devemos perguntar: vale a pena o esforço da migração se o que se obtém na outra nuvem é mais do mesmo?

Custos ocultos e riscos da migração (O que nem sempre se vê)

Antes de responder se vale a pena, é preciso colocar na balança todos os custos envolvidos em uma migração de nuvem. E não estamos falando só da fatura do provedor. Migrar de AWS para GCP não é como apertar um botão – envolve planejamento, execução cuidadosa e possíveis impactos no dia a dia da empresa. Muitos desses custos acabam invisíveis no orçamento inicial do projeto, aparecendo apenas durante ou após a migração. Vamos destacar alguns custos ocultos e riscos operacionais que devem ser considerados:

  • Tempo e foco da equipe: horas de engenharia serão gastas em planejamento, refatoração e testes na nova plataforma. Isso significa tirar desenvolvedores e DevOps de projetos de produto para trabalharem na migração, o que representa um custo de oportunidade para o negócio. (missioncloud.com) Cada semana que a equipe passa migrando infraestruturas é uma semana a menos desenvolvendo features para clientes ou melhorando o core business.
  • Treinamento e curva de aprendizado: por mais experiente que seu time seja em AWS, o GCP tem diferenças – novas terminologias, consoles e APIs diferentes, configurações específicas. Haverá necessidade de treinar a equipe em serviços GCP e boas práticas desse novo ambiente. Durante essa curva de aprendizado, é normal ocorrer queda temporária de produtividade e até erros de configuração enquanto todos se adaptam. Esse período de ramp-up pode durar meses, dependendo da familiaridade prévia com tecnologias Google.
  • Integrações e refatorações não planejadas: raramente uma migração é lift-and-shift puro (replicar tudo igualzinho em outro provedor). Diferenças sutis entre serviços exigem ajustes em automações, pipelines de CI/CD, monitoramento e nas integrações com sistemas legados. Por exemplo, reescrever scripts de infraestrutura (Terraform, CloudFormation vs Deployment Manager), adequar configurações de segurança (IAM da AWS vs IAM do GCP) e adaptar componentes onde não há paridade exata de serviços. Esses esforços adicionais consomem tempo de desenvolvimento e podem gerar bugs se algo for esquecido.
  • Downtime e riscos operacionais: migrar aplicações em produção envolve o risco de interrupções de serviço durante cutovers, migração de dados ou reconfiguração de redes. Mesmo com planejamento, algum downtime pode ser inevitável, impactando clientes e negócios. Além disso, há riscos de performance degradar temporariamente após a mudança, ou até perda de dados se procedimentos de migração falharem. (Vale lembrar: já houve caso de migração mal executada que levou à perda de 24 TB de dados sensíveis de uma empresa. Um pesadelo que ninguém quer vivenciar.) Fonte: bluexp
  • Operação paralela e custos duplicados: durante a transição, é comum manter parte do ambiente antigo rodando enquanto o novo é preparado. Esse período de sobreposição – com recursos ativos na AWS e no GCP simultaneamente – significa custos em dobro temporariamente. Por exemplo, você pode precisar sincronizar dados entre bancos nas duas nuvens ou manter servidores antigos como contingência até validar totalmente os novos. Quanto mais longa a migração, mais tempo você paga por duas infraestruturas. Isso pode estourar o orçamento se não for bem controlado.

Todos esses fatores representam custos e riscos reais, muitas vezes subestimados no entusiasmo inicial de “vamos para a cloud X que será melhor”. Não à toa, a Gartner observou que 83% dos projetos de migração de dados falham ou excedem o orçamento/tempo previsto (FONTE: bluexp.netapp.com). Em projetos de migração complexos, apenas 16% terminam dentro do prazo e custo estimados – a grande maioria atrasa ou gasta mais do que o planejado. Esses números são alarmantes e reforçam que migrar de um provedor para outro é uma iniciativa delicada que precisa justificar cada centavo investido. Se no final das contas você gastar milhões em um projeto que não traz melhoria tangível, será difícil explicar aos diretores por que aquilo valeu a pena.

Quando a migração não compensa: Mudança ≠ Transformação

Dado que AWS e GCP entregam capacidades similares, e considerando os inúmeros custos e riscos envolvidos, não é surpresa que muitas migrações acabam sendo um desperdício de recursos. Isso acontece especialmente quando a decisão de migrar não está apoiada em um benefício concreto e mensurável. É o caso de migrações motivadas por razões equivocadas, como “nossa concorrente migrou, então deveríamos migrar também” ou “cansamos da AWS, vamos mudar para inovar“. Mudar de plataforma sem um objetivo claro de negócio tende a falhar em gerar valor – você pode acabar em outro provedor com a mesma aplicação, os mesmos problemas de antes e alguns novos, após gastar meses de esforço.

Um erro comum é confundir “projeto de migração” com “projeto de melhoria”. Migrar não vai, por si só, otimizar seu sistema ou reduzir custos estruturalmente. Se sua arquitetura na AWS estava mal dimensionada ou com desperdícios, ao apenas relocalizar tudo no GCP esses desperdícios continuarão lá (e você ainda pode enfrentar custos adicionais se não conhecer bem o modelo de custos do novo provedor). Há quem descubra depois de migrar que apenas levou o débito técnico de um lugar para outro, sem resolver nada. Como aponta um relatório da HFS Research/EY, muitas empresas não alcançam o retorno esperado porque não alinharam a iniciativa às melhorias de processo e negócio necessárias – ou seja, só trocaram a tecnologia de lugar. Nesse cenário, a migração vira projeto de vaidade: muito barulho, muita mudança, mas no final os usuários e clientes não percebem diferença alguma (exceto talvez alguma instabilidade no período de transição).

Portanto, antes de migrar, questione profundamente o “por quê”. Quais métricas de sucesso justificariam a migração? Reduzir custos em X%? Aumentar throughput/disponibilidade de algum serviço crítico? Acessar um recurso específico inexistente no provedor atual? Se a resposta for vaga (“porque sim”, “porque o novo CTO prefere GCP”, etc.), encare isso como sinal de alerta. Migrar por tendência ou por insatisfação genérica pode ser um caminho caro para nenhum lugar. Em vez disso, muitas vezes é mais efetivo otimizar o ambiente existente na AWS (ou seja qual for a plataforma atual) – revisar configurações, otimizar instâncias, melhorar automação – do que gastar energia equivalente em reconstruir tudo no GCP sem ganhos adicionais.

Em resumo contundente: Se não está claro qual problema de negócio a migração vai resolver ou que oportunidade única vai destravar, provavelmente não compensa migrar. Mudar de nuvem não equivale a transformação digital; é, no máximo, uma troca de ferramentas. Sem mudança arquitetural ou ganhos funcionais, é trocar seis por meia dúzia, arcando com todos os custos no meio do caminho.

Quando faz sentido migrar? (O lado positivo)

Depois de tanta crítica, é importante dizer: existem, sim, situações em que migrar de AWS para GCP pode fazer sentido e trazer ótimos resultados. A chave é ter um caso de uso concreto onde o GCP ofereça algo substancialmente melhor para sua empresa. Alguns cenários exemplares:

  • Redução significativa de custos ou performance superior comprovada: Talvez seu workload específico rode de forma mais eficiente no GCP, aproveitando recursos únicos ou descontos. Por exemplo, a MakerBot – empresa de impressoras 3D – migrou da AWS para o GCP e reportou uma redução de ~30% nos custos mensais, além de melhorar a escalabilidade e latência para os usuários. Nesse caso, a mudança veio acompanhada de ganhos financeiros claros e melhoria de experiência do cliente. Se sua análise detalhada de custos mostrar uma economia substancial no GCP (após considerar todos os custos de migração), essa pode ser uma justificativa válida.
  • Necessidade de recursos tecnológicos exclusivos do GCP: O Google Cloud tem alguns trunfos técnicos. Um exemplo é o BigQuery, data warehouse altamente escalável e sem administração, que pode oferecer desempenho imbatível em analytics de grandes volumes de dados para quem precisa desse tipo de solução. Outro é o forte enfoque em ML/AI – empresas que dependem de aprendizado de máquina em larga escala podem se beneficiar dos recursos como TPUs (Tensor Processing Units) do Google ou APIs de AI do GCP, que alguns consideram à frente em certas áreas. Além disso, o Google liderou o desenvolvimento do Kubernetes; o serviço gerenciado GKE (Google Kubernetes Engine) é frequentemente citado como referência do mercado, com facilidade de uso superior ao EKS da AWS. Assim, se a sua companhia é pesadamente dependente de Kubernetes ou de pipelines de ML/Big Data, migrar para aproveitar a expertise do GCP nessas frentes pode trazer ganhos reais em produtividade e inovação.
  • Considerações estratégicas de negócio: Às vezes, a motivação para sair da AWS não é técnica, e sim estratégica. Um caso real é o da Axonify, fornecedora de soluções de e-learning para varejo, que decidiu migrar para o GCP para evitar ligação com a Amazon (dona da AWS), já que muitos dos seus clientes eram do setor de varejo e viam a Amazon como concorrente direta. Essa mudança eliminou um conflito de interesse comercial e trouxe mais tranquilidade aos clientes da Axonify. De forma similar, algumas empresas optam pelo GCP (ou outro provedor) para diversificar e evitar lock-in com um único provedor dominando tudo – especialmente organizações maiores, que adotam estratégias multi-cloud para reduzir dependência excessiva de um só fornecedor. Nesses casos, a migração faz parte de uma estratégia maior de posicionamento ou negociação.
  • Suporte e parceria: Não podemos ignorar que o nível de suporte e atenção oferecido pelos provedores pode variar. Algumas empresas relatam ter recebido apoio mais próximo e consultivo da Google (especialmente via parceiros) do que tinham na AWS. Se você sente que está “abandonado” no seu provedor atual e o concorrente oferece uma parceria técnica mais forte para evoluir sua infraestrutura, isso pode pesar na decisão. (Em geral, tanto AWS quanto GCP têm programas de suporte premium – mas experiências variam, e empresas médias às vezes conseguem um relacionamento mais dedicado com o provedor menos dominante no mercado.)

Em todos os cenários acima, o ponto em comum é: existe um benefício específico e significativo a ser obtido com a mudança. Seja economizar um percentual relevante do OPEX de TI, desbloquear uma capacidade tecnológica nova ou alinhar a infraestrutura com a estratégia de negócio, há um porquê forte guiando a migração. Nesses casos, a migração deixa de ser “mudança pela mudança” e passa a ser um investimento estratégico, com potencial de retorno claro.

Naturalmente, mesmo quando há justificativa, ainda é preciso executar muito bem o projeto para que o benefício se confirme. A MakerBot só colheu frutos porque planejou e executou sua migração de forma exemplar (com ajuda de parceiros), conseguindo mover tudo em 8 semanas com apenas 4 horas de downtime. Ou seja, ter o caso de uso certo não elimina o desafio da execução – mas pelo menos sabemos por que estamos enfrentando o desafio.


Migrar da AWS para o GCP não é uma decisão trivial. Como vimos, nem toda mudança traz progresso – especialmente quando falamos de dois provedores líderes que entregam serviços e performance semelhantes. Antes de embarcar nesse tipo de migração, é vital fazer uma análise fria: quais problemas reais estamos tentando resolver? Já otimizamos tudo que podíamos na plataforma atual? O que ganharemos no novo ambiente que justifica os custos, esforços e riscos? Em muitos casos, a conclusão será que ficar onde está e melhorar internamente é a escolha mais sensata. Em outros, pode haver sim uma oportunidade de melhoria que faça a mudança valer a pena – mas esses casos vêm acompanhados de uma visão clara de benefícios, não apenas de um desejo abstrato de mudança.

Para executivos e líderes técnicos, a lição é adotar uma postura estrategicamente cética: desafie as razões da migração, exija evidências de ganho e planeje meticulosamente se decidir seguir em frente. Lembre-se das estatísticas de insucesso e das armadilhas ocultas para não subestimar o empreendimento. E se optar por migrar, trate como um projeto de transformação com objetivos de negócio mensuráveis, não apenas uma troca de infra.

E você, o que acha disso tudo? Sua empresa já considerou trocar AWS por GCP (ou vice-versa)? Valeu a pena ou acabou descobrindo que “o jogo não valia o ingresso”? Compartilhe sua opinião, experiências e até discordâncias nos comentários! Vamos continuar essa conversa – CTOs, CEOs, devs e arquitetos, quais são seus critérios para decidir sobre migrações de nuvem? Sentimos na pele que decisões assim podem definir rumos do negócio, então toda perspectiva é bem-vinda.

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